ISSO É OBSCENO: UMA REFLEXÃO VERDADEIRA EM TRÊS PARTES
Texto por Chimamanda Ngozi Adichie / Tradução por Aleta Valente
15 de junho de 2021
PARTE UM
Quando você é uma figura pública, as pessoas escrevem e dizem coisas falsas sobre você. Vem com o território. Muitas dessas coisas você deixa de lado. Muitos você ignora. As pessoas próximas a você avisam que o melhor é o silêncio. E frequentemente é. Às vezes, porém, o silêncio faz com que uma mentira comece a ter um brilho de verdade.
Nesta era de mídia social, onde uma história viaja pelo mundo em minutos, o silêncio às vezes pode significar que outras pessoas podem sequestrar sua história e, em breve, essa versão falsa definida por outros, se torna a história definidora sobre você.
A falsidade voa e a Verdade vem mancando atrás dela, como escreveu Jonathan Swift.
Veja o caso de uma jovem que participou de meu workshop de redação em Lagos há alguns anos; ela se destacou porque era brilhante e interessada no feminismo.
Depois do workshop, dei as boas-vindas a ela em minha vida. Muito raramente faço isso, porque minhas experiências anteriores, com jovens nigerianos, me deixaram desconfiada de pessoas que são calculistas e hipócritas e querem me usar apenas como uma oportunidade. Mas ela era uma jovem feminista nigeriana brilhante e achei que valia a pena abrir uma exceção.
Ela passou um tempo na minha casa em Lagos. Tivemos longas conversas. Eu a dava apoio, era conselheira, consoladora.
Então eu dei uma entrevista em março de 2017 na qual eu disse que uma mulher trans é uma mulher trans, (em geral, foi dizer que devemos ser capazes de reconhecer a diferença, ao mesmo tempo em que somos totalmente inclusivos, isso quer dizer que toda a premissa de inclusão é a diferença.)
Disseram que ela foi às redes sociais e me insultou.
Esta mulher me conhece o suficiente para saber que apoio totalmente os direitos das pessoas trans e de todas as pessoas marginalizadas. Que sempre apoiei fortemente as diferenças em geral. E que sou uma pessoa que lê, pensa e forma minhas opiniões de uma forma cuidadosamente considerada.
Claro que ela poderia muito bem ter questões com a entrevista em si. Isso é bastante justo. Mas eu tive um relacionamento pessoal com ela. Ela poderia ter me enviado um e-mail, ligado ou enviado uma mensagem de texto. Em vez disso, ela foi às redes sociais para fazer uma performance pública.
Eu fiquei chocada. Eu não podia acreditar. Eu me considerava responsável.
Meu espírito foi ligeiramente paralisado, desde o início, por ela. A primeira sensação de mal-estar que tive com ela, foi quando ela postou uma foto tirada em minha casa, numa época em que eu não queria nenhuma foto da minha vida pessoal nas redes sociais. Eu pedi para ela tirar. O segundo caso de desconforto foi quando ela divulgou algo que eu havia contado confidencialmente sobre outro membro do workshop. O mais preocupante foi quando ela, sem me dizer, usou meu nome para solicitar um visto americano. Acima de tudo, foi a minha suspeita persistente de que ela era uma pessoa que escolhia como amigos apenas aqueles de quem ela poderia se beneficiar. Mas ela era uma jovem feminista nigeriana brilhante e eu permiti que esse sentimento anulasse meu desconforto.
Depois que ela me insultou publicamente, ficou claro para mim que esse tipo de pessoa nociva não tinha lugar na minha vida, nunca mais.
Alguns meses depois, ela enviou este e-mail afetado e preocupado, que eu ignorei:
Sexta-feira, 15 de setembro de 2017 às 4.35
Querida Chimamanda,
Feliz aniversário. Digo isso com todo o meu coração, embora eu saiba que saí (me afastei?) de sua graça. Seria impossível para mim deixar de amá-la; muito antes de você me dar a possibilidade de ser sua amiga, você foi a personificação de minhas esperanças mais profundas, e isso nunca vai mudar.
Eu penso em você frequentemente, ainda – afirmando o óbvio. Eu lamento a perda de nossa amizade; é uma tristeza complicada. Lamento ter causado dor a você ou sentir que não pode mais confiar em mim. Tem tanta coisa que eu desejaria ter dito.
Rezo para que este aniversário seja o mais feliz de todos. Desejo a você descanso, tranquilidade e estabilidade duradoura e, claro, mais do tipo de sucesso que mais significa o melhor pra você.
Espero que ser mãe de X seja tudo o que você esperava e rezava e muito mais.
Tenha um dia maravilhoso hoje.
Amor sempre.
Cerca de um ano depois, ela enviou este e-mail, que também ignorei:
Quinta-feira, 29 de novembro de 2018 às 8h42
Cara Chimamanda,
Sei que isso já deveria ter acontecido há muito tempo e é muito insuficiente, mas realmente sinto muito. Passei muito tempo indo e voltando em minha cabeça e meus rascunhos de e-mail; pensando se devo escrever para você, como escrever para você, o que dizer, todos os tipos de coisas. Mas, no final das contas, isso é o que eu preciso dizer.
Lamento ter desapontado e magoado você por dizer coisas publicamente que foram severamente críticas, rudes e até desrespeitosas, especialmente à luz de todas as reações e críticas que você experimenta de pessoas que não a conhecem. Eu poderia ter agido com mais consideração para com você. Eu deveria, especialmente, ter usado do privilégio da intimidade que você me ofereceu. Existem muitos motivos pelos quais escolhi me comportar daquela maneira, mas nenhum deles é uma desculpa. E eu percebo claramente agora, depois de muitos, muitos meses de tristeza desnecessária e angústia e mágoa e confusão real, que eu não te tratei como um amigo faria – certamente não como alguém a quem você ofereceu acesso sem precedentes a si mesmo e sua vida .
Você significa muito para mim, desde que eu era apenas um adolescente. Tem sido muito difícil navegar pelas consequências emocionais dos últimos meses, sabendo que você estava descontente comigo, mas realmente não entendendo o porquê, então decidindo que eu não me importava, então percebendo que isso nunca seria verdade. Eu sempre me importei. Mas eu estava confusa demais sobre a situação para ser capaz de entendê-la, ou enxergar adequadamente além de minhas próprias justificativas. Me desculpe por ter demorado tanto para entender como eu te decepcionei.
Sei que não tenho espaço para perguntar nada a você, mas ficaria grata pela chance de dizer isso pessoalmente. Ainda assim, mesmo que eu nunca entenda isso, realmente espero que você acredite em mim.
Parabéns por reiniciar o workshop, e por todos os outros sucessos incríveis dos últimos meses. Eu penso em você frequentemente; seria impossível não pensar. Você parece tão feliz em suas fotos. Eu realmente espero que você esteja bem.
Todo meu amor,
Eu esperava nunca mais ouvir falar dela. Mas ela recentemente foi às redes sociais para escrever sobre como ela “se recusou a beijar meu anel”, como se eu exigisse algum tipo de reverência dela. Ela também sugere que há algo “a mais” sombrio para contar que ela não contará, com um tom de “se você soubesse toda a história.”
É uma forma manipuladora de mentir. Ao sugerir que há “mais” quando você sabe muito bem que não há, você causa danos suficientes à reputação ao mesmo tempo em que pode alegar negação. A insinuação sem fato é imoral.
Não, não há mais nessa história. É uma história simples – você se aproximou de uma pessoa famosa, insultou publicamente a pessoa famosa para se engrandecer, a pessoa famosa o cortou, você enviou e-mails e textos que foram ignorados e, então, decidiu entrar nas redes sociais para vender falsidades. É obsceno dizer ao mundo que você se recusou a beijar um anel quando na verdade não existe nenhum anel.
Não posso dar muita importância à hostilidade de estranhos que não me conhecem – a fama mancha a nossa visão sobre a humanidade de pessoas famosas. Mas a verdade é que a pessoa famosa continua irremediavelmente humana. A fama não livra a pessoa famosa da decepção e da depressão, a fama não o torna menos irritado ou magoado pela natureza dúbia das pessoas. Ser famoso é presumir que tem poder, o que é verdade, mas na análise da fama, as pessoas muitas vezes ignoram a vulnerabilidade que vem com a fama, e são incapazes de ver como outras pessoas que não têm nada a perder podem mentir e ser coniventes, a fim de aproveitar essa fama, sem dar um só pensamento aos sentimentos e à humanidade do famoso.
E quando você conhece pessoalmente uma pessoa famosa, quando experimenta sua humanidade, quando se beneficia de sua bondade e, ainda assim, é incapaz de estender a ela a graça e o respeito básicos que até mesmo um relacionamento casual merece, então isso diz algo fundamental sobre você.
E de uma forma iludida, você se convencerá de que seu comportamento hipócrita, egoísta e sem compaixão é, na verdade, feminismo de princípios. Não é. Você envolverá sua malícia medíocre na falsa névoa da pureza ideológica. Mas ainda é malícia. Você vai dizer a si mesma que ser capaz de repetir a mais recente ortodoxia feminista americana justifica que você ataque o espírito de uma pessoa que lhe mostrou apenas gentileza. Você pode chamar o seu oportunismo por qualquer nome, mas isso não o torna menos horrível do que de fato é.
PARTE DOIS
Quando li pela primeira vez o trabalho dessa pessoa, que era sua aplicação para o meu workshop de redação, achei que as frases estavam bem feitas. Eu aceitei essa pessoa. No workshop, achei que eles poderiam ter sido mais respeitosos com os outros participantes, talvez não tenham ficado digitando com desdém enquanto as histórias dos outros eram discutidas, com um ar de estar entre pessoas abaixo do seu nível. Depois do workshop, decidi selecionar as melhores histórias, editá-las, pagar uma taxa aos redatores e publicá-las em uma revista eletrônica. A primeira história que escolhi foi a dessa pessoa. Escrevi uma introdução brilhante, que a história realmente merecia.
Eles enviaram este e-mail:
Muito obrigado por essa introdução. Significa muito para mim e vou continuar lendo para atravessar o resto da minha estadia em Syracuse. Mandei para minha mãe e ela ficou nervosa com o artigo porque você disse que ‘ele perturba’, e ela disse que não tem certeza de como se sentirá ao ler. Mas ela também é uma daquelas pessoas que “vamos deixar o passado para o passado”. Minha irmã aprovou, o que significou muito porque nossas infâncias foram dedicadas uma a outra.
Com tudo isso para dizer que sou muito grato por você ter me dado o espaço para escrever a versão curta desse trabalho, o incentivo para escreve-lo mais longo e, agora, uma plataforma para isso acontecer. Definitivamente, tenho planos de escrever mais sobre Aba.
Obrigado, de todo o coração.
PS- Eu queria terminar com gratidão + graciosamente em Igbo, mas eu achei melhor não deixar cair minha própria mão 🙂
Cerca de um ano depois, eles enviaram outro e-mail para me informar que seu romance seria publicado.
Quarta, 8 de junho de 2016, 8:20
Saudações!
Espero que tenha corrido tudo bem com você nesse ano que passou. Parabéns pela chegada do bebê, espero que esteja sendo uma delícia (tenho certeza que está) e pelas homenagens da Johns Hopkins.
Eu estava lembrando que nessa mesma época, no ano passado, eu tinha acabado de receber um e-mail de você sobre Farafina e deu vontade de entrar em contato e te enviar uma atualização rápida.
Acabei de aceitar uma oferta para escrever o romance que enviei como minha inscrição no workshop, e parece que o workshop foi um catalisador para os eventos que me trouxeram até aqui. Então, obrigada, pelo workshop e pelas suas palavras e pela série de TV Olisa, e por me ouvir tagarelar sobre a minha história no hotel. Agradeço profundamente tudo isso e você.
Todo meu melhor,
Antes do romance ser publicado, falei sobre ele para algumas pessoas, para ajudar a chamar a atenção. Eu não consegui terminar de ler. Achei a escrita bonita, mas a história falsa e oprimida. Quando falei do romance, porém, foi o primeiro sentimento que expressei, nunca o último.
Depois de dar a entrevista de março de 2017 em que dizia que uma mulher trans é uma mulher trans, me disseram que essa pessoa havia me insultado nas redes sociais, me chamando, entre outras coisas, de assassina. Fiquei profundamente chateada porque, embora não os conhecesse pessoalmente, sentia que eles sabiam o que eu defendia e que apoiava totalmente os direitos das pessoas trans, e que não queria que ninguém morresse.
Mesmo assim, não fiz nada. Eu ignorei o insulto público.
Quando os editores dessa pessoa me enviaram uma cópia antecipada de seu romance, fiquei surpresa ao ver que meu nome foi incluído em sua biografia de capa. Eu nunca tinha visto isso feito em um livro antes. Não gostei do fato de não me terem pedido permissão para usar meu nome, mas, acima de tudo, pensei: por que uma pessoa que pensa que sou um assassino gostaria que meu nome fosse exibido com tanto destaque em sua biografia?
Então eu soube que, como meu nome estava na biografia de capa, um jornalista os chamou de meus “protegidos”, e eles então fizeram uma birra no Twitter, chamando de clickbait, negando violentamente ter recebido qualquer ajuda minha.
Eu sabia que essa pessoa tinha me chamado de assassino, eu sabia que eles estavam ativamente fazendo campanha para me “cancelar” e tuitando sobre como eu não deveria mais ser convidado para falar em eventos. Mas isso eu sentia que não podia ignorar.
Enviei um e-mail ao meu representante:
De: Chimamanda Adichie
Data: Quarta, 14 de fevereiro de 2018 às 14h06
Estou escrevendo sobre X
Ela participou do meu workshop em Lagos há dois anos e eu selecionei o trabalho dela como uma dos poucos que publiquei após o workshop.
Aparentemente, fui referido como sua ‘mentora’ e / ou ela foi referida como minha ‘protegida’ em alguns artigos, o que a levou a twittar sobre isso. Seus tweets foram encaminhados para mim por amigos. Neles, ela reagiu de forma bastante visceral quanto ao ser chamada de minha ‘protegida’.
Para ser justa, ela não é tecnicamente minha ‘protegida’, e é perfeitamente normal que ela se sinta assim, mas a indelicadeza do tom e a energia ruim expostos em seus tweets me surpreenderam.
Recentemente recebi seu livro e percebi que meu nome foi incluído em sua biografia oficial. Eu fiquei chocada. Certamente, se ela é tão fortemente avessa a que eu seja considerada uma pessoa importante em sua carreira (que é o meu entendimento do uso livre de protegida / mentora), então é impróprio fazer a escolha de incluir meu nome em sua biografia . Achei incomum, pois não acho que já tenha visto isso feito antes na biografia de um livro, mas agora também acho inaceitavelmente cínico.
É razoável para uma pessoa que vê meu nome, como ele foi usado em sua biografia – “seu trabalho foi selecionado e editado por Chimamanda Ngozi Adichie” – assumir algum tipo de relacionamento mentor / protegido.
Rejeitar isso publicamente com um tom que beira a hostilidade e, ao mesmo tempo, usar meu nome de forma tão descarada para vender seu livro é totalmente inaceitável para mim.
Gostaria que você falasse com os editores dela e solicitasse que meu nome fosse removido da biografia oficial do livro. Recuso-me a ser usada dessa maneira.
Chimamanda
Depois de entrar em contato com seus editores, meu representante escreveu:
Eles perguntaram se você preferiria remover o agradecimento a você no final do livro também, em futuras reimpressões.
Eu respondi:
Não acho que seja minha decisão a tomar e, portanto, não vou responder de qualquer maneira, embora fosse ideal se ela mesma tomasse a decisão de fazê-lo.
Sobre como resolver isso, eu estava absolutamente determinada a não ser usado por essa pessoa, mas também fui sensível aos custos que o editor poderia incorrer, já que isso não era de forma alguma culpa do editor. Em vez de polir as cópias já impressas, pedi que as jaquetas fossem retiradas e rebatidas. Escrevi ao meu representante:
Estou completamente determinado a não ser usado dessa forma oportunista e hipócrita. Mas quero ter certeza de que estou procedendo de maneira razoável.
Tive a certeza de que meu nome seria removido e segui em frente.
Mas volta e meia eu era informada de mais uma postagem nas redes sociais em que essa pessoa tinha me atacado.
Essa pessoa criou um espaço no qual os seguidores da mídia social – e isso eu acho imperdoável – banalizaram a morte dos meus pais, alegando que a perda repentina e devastadora de meus pais com meses de diferença durante esta pandemia foi “punição” para minha ‘transfobia.’
Esta pessoa pediu aos seguidores que pegassem facões e me atacassem.
Essa pessoa começou uma narrativa de que eu havia sabotado sua carreira, uma narrativa que foi retomada e repetida por outros.
A resposta normal seria ignorar tudo, porque essa pessoa está buscando atenção e publicidade para se beneficiar. Alegar que sabotei sua carreira é mentira e essa pessoa sabe que é mentira. Mas se algo é repetido com bastante frequência, nesta época em que as pessoas não precisam de provas ou verificações para publicar uma história, especialmente uma história que tem potencial de ultraje, então pode facilmente começar a parecer verdade.
Minha abordagem a essa mentira irá, de fato, chamar a atenção dessa pessoa – que ela se delicie com isso.
Aqui está a verdade: eu apoiei muito esta escritora. Eu não precisava. Não me pediram isso. Apoiei esta escritora porque acredito que precisamos de uma gama diversificada de histórias africanas.
Sabotar a carreira de um jovem escritor simplesmente não é meu estilo; eu não obteria nenhum benefício ou satisfação com isso. Pedir que meu nome seja removido de sua biografia não está sabotando sua carreira. Trata-se de proteger meus limites do que considero aceitável no comportamento civil humano.
Você me chama publicamente de assassino E ainda se sente no direito de se beneficiar do meu nome?
Você usa meu nome (sem minha permissão) para vender seu livro E depois faz uma birra feia quando alguém faz uma referência a ele?
Que tipo de direito monstruoso, que tipo de auto absorção perversa, que total falta de autoconsciência, que indiferença desatenta, que imaturidade assustadora faz uma pessoa agir dessa maneira?
Além disso, uma pessoa que realmente acredita que eu sou uma assassina não pode querer meu nome na capa de seu livro, a menos, é claro, que essa pessoa seja um oportunista.
PARTE TRÊS
Em certos jovens de hoje como estes dois da minha oficina de escrita, noto o que considero cada vez mais preocupante: um apego a sangue-frio, uma fome de receber e receber e receber, mas nunca dar; uma enorme sensação de direito; incapacidade de mostrar gratidão; uma facilidade com desonestidade, pretensão e egoísmo que é expressa na linguagem do autocuidado; uma expectativa de ser sempre ajudado e recompensado, merecendo ou não; linguagem que é lisa e elegante, mas com pouca inteligência emocional; um nível surpreendente de auto absorção; uma expectativa irreal de puritanismo dos outros; um senso exagerado de habilidade ou talento onde existe algum; incapacidade de se desculpar, verdadeira e totalmente, sem justificativas; uma performance apaixonada de virtude que é bem executada no espaço público do Twitter, mas não no espaço íntimo de amizade.
Eu acho isso obsceno.
Existem muitas pessoas que entendem de mídia social que estão engasgando com hipocrisia e sem compaixão, que podem pontificar fluidamente no Twitter sobre gentileza, mas são incapazes de realmente mostrar gentileza. Pessoas cujas vidas nas redes sociais são estudos de caso em aridez emocional. Pessoas para quem a amizade e suas expectativas de lealdade, compaixão e apoio não importam mais. Pessoas que afirmam amar a literatura – as histórias complicadas de nossa humanidade – mas também são monomaniacamente obcecadas com o que quer que seja a ortodoxia ideológica prevalecente. Pessoas que exigem que você denuncie seus amigos por motivos frágeis, a fim de permanecer um membro da classe puritana escolhida.
Pessoas que pedem que você se “eduque” sem ter realmente lido nenhum livro, embora não sejam capazes de defender de maneira inteligente suas próprias posições ideológicas, porque por “educar”, eles realmente querem dizer “repetir o que eu digo, achatar todas as nuances, não desejar a complexidade. ‘
Pessoas que não reconhecem que o que chamam de tomada sofisticada é, na verdade, uma mistura simplista de abstração e ortodoxia – a sofisticação, neste caso, é uma exibição de como eles estão satisfeitos com a versão atual da ortodoxia ideológica.
Pessoas que usam as palavras “violência” e “armamento” como forquilhas manchadas. Pessoas que dependem da ofuscação, que não têm compaixão por ninguém genuinamente curioso ou confuso. Faça-lhes uma pergunta e será dito que a resposta é repetir um mantra. Peça novamente por clareza e seja acusado de violência. (Que irônico, por falar em violência, que seja um desses dois que encorajou os seguidores do Twitter a pegar facões e me atacar.)
E assim temos uma geração de jovens nas redes sociais com tanto medo de ter as opiniões erradas que se privaram da oportunidade de pensar, aprender e crescer.
Falei com jovens que me dizem que têm medo de tweetar qualquer coisa, que leem e releiam seus tweets porque temem ser atacados pelos seus conhecidos. A suposição de boa fé está morta. O que importa não é a bondade, mas a aparência da bondade. Não somos mais seres humanos. Agora somos anjos se acotovelando para serem anjos uns dos outros. Deus nos ajude. É obsceno.
Texto original : www.chimamanda.com
Texto incrível! Obrigada por traduzir!
Esse final aí é um tapa em toda essa geração, ela falou tudo, eles repetem mantras, mas se recusam a responder perguntas de maneira eficiente.